Não se conhece a origem da Quinta do Álamo – há quem diga que os terrenos pertenciam, originalmente, à Quinta Grande e que, por meio de partilhas, destacaram-se alguns terrenos que hoje constituem a Quinta do Álamo.
O registo mais antigo é uma placa, em pedra calcária, afixada numa parede exterior da casa senhorial e que indica a data provável da sua construção. Nesta placa pode ler-se: «Mandou fazer G. A. C. M. no anno de 1833» . Um assento de batismo, realizado em 1 de fevereiro de 1836, de Matilde, “filha legítima de José da Silva e de Felicia Maria moradores na quinta do Alamo desta freguesia [de Arrentela], foi Padrinho Gaspar Angelo da Costa Madeira dono da mesma quinta (…)”, permitindo assim identificar o significado das iniciais inscritas na placa.
No extremo superior do portão principal de entrada na quinta, que dá para a Avenida dos Metalúrgicos, pode ler-se «1944», ano da construção do muro.
A Quinta do Álamo e a Quinta do Bom Pastor (esta anteriormente denominada “Quintinha” ou “Baixinho”) pertenceram à família d’Orey, mais precisamente ao casal Guilherme (Willy) Perestrelo d’Orey e Celeste Rodrigues de Oliveira d’Orey.
Existe documentação dos anos 40 do século XX, os quais incluem recibos, listas dos lucros, notas dos caseiros e correspondência trocada entre os primos Willy e Zé, enquanto o primeiro estava no Brasil, para tratar dos negócios da família – a antiga Companhia Comercial e Marítima, Orey e Antunes, fundada pelo tio José Diogo de Albuquerque d’Orey (irmão de Frederico Guilherme de Albuquerque d’Orey, pai de Willy).
Nos anos da II Guerra Mundial os produtos consumíveis tornaram-se demasiado caros e, por esta razão, o Governo recomendou que se trabalhasse e cultivasse a terra e, assim, se combatesse a fome. A Quinta do Álamo não ficou aquém, tendo reforçado o pomar e plantado muitas árvores de citrinos (em meados dos anos 40, século XX), em solos pouco apropriados para tal. Na altura a laranja “valia ouro” e apesar de não ser de grande qualidade, continuou a ser produzida na Quinta do Álamo. Hoje ainda existem muitos exemplares que sobreviveram e salpicam o antigo pomar.
Para além da guerra, a revolução industrial provocou uma alteração nas mentalidades das pessoas ativas – as pessoas preferiam trabalhar numa fábrica, onde tinham um horário mais reduzido e pagamento certo, em vez de trabalharem numa quinta, em que o horário era dependente do número de horas de sol e o pagamento dependia muito do sucesso da produção e da venda dos produtos. Na correspondência consultada, Zé de Mattos desabafa com o primo e culpa as fábricas, pelo desleixo dos trabalhos e dos trabalhadores na quinta – as pessoas queriam horários mais reduzidos e ordenados certos. Outras quintas no Seixal e nos arredores deixaram de funcionar porque não conseguiam mão-de-obra para trabalhar os terrenos e tratar dos animais.
Os negócios de Willy, no Brasil, tiveram pouco sucesso, bem como as tentativas de Zé na gestão e administração da Quinta do Álamo. Este último queixava-se, principalmente, da falta de profissionalismo dos trabalhadores, da falta de apoio da polícia em relação aos roubos e da despesa que a quinta dava, pela necessidade de regar, reparar, comprar, pagar…
O Sr. José do Norte, foi o primeiro caseiro da Quinta do Álamo de que há registo, tendo sido despedido em Abril de 1942, com autorização de Willy. Juntamente com esta autorização, Willy aconselha o primo Zé a abandonar o jardim e os pomares.
Apesar das despesas, Zé de Mattos procurava que a quinta não apresentasse um aspeto de “pobreza”. Por esta razão encontram-se registos que mandou plantar «roseiras trepadeiras encarnadas», junto ao tanque e ao poço, bem como buganvílias «sobre os bancos de jardim».
Por testamento de Willy, a Quinta do Álamo (incluindo o Baixinho) seria doada ao Patriarcado de Lisboa, com a condição de usufruto por parte de sua mulher até ao seu falecimento. Dadas as elevadas despesas de manutenção, Celeste d’Orey, em 16 de março de 1971, na altura viúva, sem descendência e única proprietária, faz a doação plena ao Instituto de Formação e Apostolado do Patriarcado de Lisboa. Em 1975, com a criação da Diocese de Setúbal, a Quinta passou para o seu património, tendo “herdado” também o caseiro, o Sr. Augusto, que, conjuntamente com sua mulher, asseguravam a manutenção e a segurança.
Nessa altura vivia-se um clima de grande tensão, marcado pelos primeiros tempos da democracia pós “25 de Abril”, pelo chamado “verão quente” e por alguns episódios rocambolescos em que a Quinta foi envolvida. Com a reforma agrária, corria o risco de ser retirada à diocese, chegando mesmo a ser alvo de acusações de esconder armas “contra-revolucionárias”, tendo uma vistoria, por parte de militares do Movimento das Forças Armadas, acabado na adega com a prova dum bom vinho produzido pelo Sr. Augusto a partir da vinha existente no Baixinho.
Integrada no território da paróquia de Arrentela, foi esta responsável pela sua gestão durante várias décadas, tendo o seu pároco, Pde. David Pinho Esteves, delegado essa tarefa ao Pde. José Augusto Pereira, do Seixal. Desde 1975 os jovens católicos das paróquias circundantes, grupos diocesanos e agrupamentos de escuteiros usaram a Quinta do Álamo como local de encontro, para retiros e acampamentos, contribuindo para uma quinta viva e a criação de uma forte identidade e ligação de gerações. A missa dominical, então celebrada no salão da casa senhorial, foi marcante para a população envolvente e para inúmeros crentes vindos de mais longe.
Depois de vários modelos de gestão mais ou menos conseguidos, é gerida atualmente pelo seu proprietário, o Seminário Diocesano de Setúbal, através do Pde. José Manuel Teixeira de Abreu, ecónomo da Diocese, contando ainda com a colaboração de diversas pessoas que, em maior ou menor grau, dão parte do seu tempo e conhecimento para a conservação, valorização e dinamização da Quinta do Álamo.
(em 2015, adaptado de um texto da Arq. Maria Inês Adagói)